Eu tinha que relatar com a memória ainda recente meu último dia com as crianças aqui.
Desde o meu primeiro contato com elas já me diziam que me amavam. Claro que eu fiquei altamente surpresa com essa recepção calorosíssima, mas depois lembrei que são crianças, que têm sentimentos mais leves e puros que adultos e sim, acredito que eles possam ter me amado durante mesmo.
O engraçado é que eu sinceramente fiz muita pouca coisa por eles, concretamente falando. Ensinei algumas palavras em português, algumas brincadeiras (que eles nem gostaram tanto), tentei ajudar alguma coisa no dever de matemática (claro que eu mais atrapalhei que ajudei),ensinei a dançar Carrapicho, ajudei no dever de inglês e em alguns serviços pequenos da professora. Várias vezes fiquei entediada e até dormi, porque o fato de não falar romeno muitas vezes me limitava. Tirando isso, recebi muitos abraços e beijos, de todos. Sempre quando eu chegava ou ia embora, eles vinham esmagar o meu estômago, às vezes por uns 5 minutos. Às vezes sentia saudade de casa, do Brasil, estava com raiva de não ter o controle da situação aqui (porque é inevitável quando vc é estrangeiro), chegava lá, recebia aquele amor todo e meu dia mudava. Eles que faziam algo por mim, não eu por eles. No fim das contas, eles fizeram-se a razão do meu intercâmbio, quando várias vezes me perguntei que diabos eu estava fazendo no norte da Romênia.
Qual foi minha surpresa quando cheguei ontem no centro e cada um deles me deu um cartão de Natal com as mensagens em português (pelo google tradutor, daqueeele jeito)!!! Lindos, lindos, lindos! :}
Hoje tentei fazer algo parecido, dei cartõezinhos, bombons e adesivos. Ao final de tudo, cada um me agradeceu e falou do que gostou da minha presença aqui. As respostas variaram: porque ensinei português, porque tentei falar em romeno com eles, porque tenho um bom coração, porque eu sou bonita (sério, com tanta romena bonita aqui, de onde eles tiraram isso??), porque eu canto bem (como assim???), porque eu ensinei eles a dançarem “bate forte o tambor” e porque os ajudei com o dever de casa. Aí me deram um abraço coletivo de esmagar o estômago e de perder o equilíbrio. Depois de todos irem embora, vi a Stefana chorando numa cadeira. Pensei que ela tivesse se machucado no abraço coletivo. E aí perguntei pra professora:
“O que aconteceu?
Prof: ela está chorando porque você vai embora e sabe que não vai voltar mais.
Eu: Sério????”
Não acreditei mesmo que ela realmente tinha se afeiçoado tanto. Eu gostei dela logo de cara, achei a mais esperta do grupo, a mais carinhosa e charmosinha. Ela também era muito inteligente, não só em matemática, mas é daquelas pessoas que pegam rápido as coisas. Confesso que ela virou uma das minhas favoritas, hehe.
Não podia desmentir, eu não pretendo voltar mesmo. Falei-lhe a verdade – que ela era muito especial pra mim, que nunca a esqueceria, que eu iria mandar fotos e que ela também poderia me mandar notícias. A professora comentou que ela sempre reage assim em despedidas, e eu a compreendi imediatamente, eu também não tenho a melhor reação quando as pessoas vão embora…Mas é a vida, não é mesmo?
O melhor vem a seguir.
Percebi que sua mãe, sempre participativa, também estava chorando. E ela me disse que também gostava de mim porque a Stefana falava de mim em casa frequentemente, e que quando eu a abraçava e beijava, o fazia que nem uma mãe.
Aí eu desmontei. Acho que foi um dos elogios mais lindos que eu já ouvi. Como em uma realidade tão fria e pobre ela conseguiu achar tanta poesia?
E era verdade. Eu os abraçava com muito carinho e cuidado simplesmente porque eles me abriram o portal pra eu poder receber o carinho deles também, que era sempre tão puro e tão gostoso de receber! E eu queria retribuir como se fossem meus filhos mesmo, porque eu sei que todos eles necessitam de carinho. Afinal, qual o conceito de família, né?
É…vou sentir falta do meu estômago esmagado =(